Por Mathieu Molitor
Nível Intermediário I
O
meu dia sempre começa de maneira brutal com o alarme do meu celular, o qual
emite um som muito estridente às 6 horas em ponto. Quando alcanço a cozinha,
com a sensação de estar cercado por uma bruma densa, me dirijo para a TV a fim
de ouvir Ricardo e Silvana enumerar os acidentes de carros que aconteceram à
noite, enquanto verifico se tem alguma coisa no refrigerador que o meu estômago
poderia aceitar. No banheiro, sempre tenho um pouco de apreensão, porque tem o
famoso aquecedor de banho! Este objeto, que descobri no brasil, obriga a fazer
uma escolha : ter só um pouco de água, mas quente, ou ter muita água, mas fria.
Em todo o caso, a gente se sente aldrabado.
A
caminho da UFBA, na Avenida Oceânica, eu sempre cruzo com as mesmas pessoas.
Existe um homem muito velho, talvez 70 anos, de pele branca e muito alto, que
anda lentamente no sentido oposto. Provavelmente, ele faz exercício. Entre as
duas pistas da avenida, há uma faixa de terra com árvores onde uma mulher de
pele preta e roupas vermelhas varre as folhas mortas. O cabelo dela é muito
curto, e eu sempre me surpreendo quando a olho : ela é tão gorda, que é difícil
dizer onde começam os glúteos e onde acaba a barriga. Ela, realmente, possui
uma geometria particular. Mais adiante, há os motoristas de táxi que esperam
tranquilamente jogando cartas. Em frente, existe um ponto de ônibus. Lá, eu
reparei uma coisa estranha. Normalmente, quando uma pessoa quer que um ônibus
pare, ela acena de modo que o motorista possa ver, o que é normal. Mas o
engraçado, é que muitas vezes, quando se trata de uma mulher, ela acena e
também gesticula com a mão exatamente como faria a asa de um pássaro. Não sei
precisamente qual é o objetivo deste extra movimento, mas é claro que não ajuda
o motorista em nada.